quarta-feira, 24 de março de 2010

O Leitor

Seguindo as discussões da postagem anterior - o que é literatura -, podemos indagar: o que é o leitor? Quem é o leitor? Sabemos (ao menos eu acredito nisso!) que o texto só existe, realmente, se for lido. Sendo assim, esqueça as "redações" escolares, aquelas que iam do caderno para a gaveta do professor e tuinham seu fim no lixo! O texto precisa ser lido! Um salve, portanto, aos blogs, que disponibilizam, no mundo internet, inúmeros textos - os quais, talvez, não serão lidos, quem sabe como este que enuncio.

Importante, ainda, diferenciar o leitor literário do leitor prosaico, isto é, o leitor de revistas e jornais do leitor de romances, contos e poesias. Quais construções de sentido estão em jogo? O imaginário, o conhecimento de mundo, a mudança do olhar...

Para continuar a reflexão, convido Luis Antônio de Assis Brasil, um mestre, para dar sua opinião:


O LEITOR

Luis Antônio de Assis Brasil


Antes, falava-se em “leitores”. Nesse contexto cultural, Stendhal, em Do Amor, afirmou que escrevia para 100 leitores. Machado de Assis também falava em seus “leitores”, e de maneira bem explícita. O que era designado sempre no plural passou, a partir de certo momento da cultura, a ser tratado como único (o Leitor). Com isso, a palavra ganhou conotações enormes. Já não tratávamos de entes identificáveis, mas de uma personalização: o Leitor é esse ente humano (pois se comporta como tal), porém de existência abstrata, que carrega a espada da justiça a decretar se um livro é bom ou mau. E é para o Leitor que os escritores escrevem, embora muitos possam dizer que o fazem para si mesmos.
O assunto conduz diretamente à ideia do Leitor Ideal, que é diferente do Leitor sem quaisquer adjetivos. O Leitor Ideal é mimoseado com atributos positivos: inteligente, culto, honrado, informado sobre ciências ocultas e sobre o pensamento iluminista. Em especial, ele entende tudo o que o escritor quis dizer, o que é um salvo-conduto em meio ao campo conflagrado das letras.
Já o Leitor Comum é um ente das qualidades mais modestas, mais pálidas; é um pouco inseguro, um pouco desinformado, um pouco difícil de entender as coisas. Muitos escrevem apenas para esse Leitor Comum e, de concessão em concessão, trivializam seus textos com platitudes inomináveis, mas asseguradoras de boas vendas. Não sei o que pensarão naquele último minuto da existência, quando a vida toda passa como um filme de cinema mudo.
Seja Leitor Comum ou Ideal, o fato é que o escritor depende deles. São para eles que o escritor escreve, por eles o escritor dá sua vida, o melhor de seu tempo, sua paixão mais verdadeira, sua saúde e sua paz. Se o Leitor soubesse o calafrio que provoca nos escritores, seria bem mais compassivo e generoso do que já é.
Ao abrirmos um livro, pensemos muito antes de saltar suas páginas ou jogá-lo ao pó do fundo da estante: pois se há vários Leitores, o escritor sempre será um só, sempre concreto, sempre feito de sensibilidade, sangue, músculos e nervos.

--> Para aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre o autor, indico uma entrevista, realizada pelo pessoal do jornal Rascunho, e o site oficial.

Pequeno trecho da entrevistas:

Incentivo à leitura
Eu acho que há um elemento absolutamente fundamental: o nível de vida das pessoas. No momento em que houver uma distribuição maior de renda vai se ler mais. Isso é natural. Todo país rico lê muito. A leitura ensina. Então isso tudo é um processo que deriva da condição de vida das pessoas. Claro, aqui no Paraná, no Rio Grande, em Santa Catarina, temos uma distribuição razoável de renda, temos a maior classe média do país, a que lê. Então me parece que esse dado é muito relevante. Mas há os atalhos. Eu acho que o caso do Rascunho é um exemplo típico do que forma o leitor. Isso claramente. Suplementos literários em jornais, tudo isso é muito importante. E nesse sentido as oficinas literárias constituem um dos mecanismos a mais na formação do leitor. Em 21 anos, passaram pela minha oficina 680 alunos. Eu fiz uma pesquisa, mas uma pesquisa realmente científica, tinha dois auxiliares de pesquisa. Dos alunos, 17% continuam escrevendo depois da oficina. Mesmo que não publiquem. E se a gente pensar que eu tenho, digamos, um número em torno de 60, 70, de ex-alunos que já publicaram livros, então são 10% que publicaram livros. Então a gente pensa assim: Bom, eu acho que é razoável. Acho bom, um nível muito bom. E os outros 90% se tornaram muito bons leitores. Então me parece que essas experiências de oficina de criação literária têm essa dupla face. Por um lado, podem formar escritores, mas sem dúvida, todos eles saem melhores leitores.

Boa leitura!

segunda-feira, 22 de março de 2010

O que é LITERATURA?

Calma, caro leitor, não pretendo, em uma simples postagem, resolver essa indagação que atormenta teóricos e preenche capítulos. Quero, apenas, socializar algumas reflexões e citar alguns trechos que podem auxiliar aqueles que se preocupam com essa discussão.
Uma das primeiras respostas refere-se ao USO da LINGUAGEM. A linguagem literária seria uma “violência organizada”, como disse um crítico, ou seja, prioriza o desvio do uso prosaico, cotidiano, para chegarmos ao estranhamento do leitor, isto é, o leitor é, inevitavelmente, levado a observar a linguagem disposta diante de seus olhos. A isso podemos das o nome de LITERARIEDADE.
Outro teórico afirmou que devemos modificar a pergunta: ao invés de “o que é literatura?”, poderíamos preencher “quando é literatura”, pois, assim, segundo ele, fugiríamos dos binarismos. De um jeito ou de outro, fato é que a literatura é uma disciplina curricular e que, infelizmente, muitas vezes, é apenas na escola que a conhecemos.
Quando a trajetória é essa, apresentam-nos, jovens adolescentes do Ensino Médio, a autores canônicos, os famosos nomes da HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA (modo que organizamos os períodos literários ao longo da linha histórica). Isso seria um problema? Muitas vezes, sim, visto que ler “Os Lusíadas” não é, de modo algum, uma tarefa fácil. Sendo assim, muitos futuros leitores sentem-se assustados e passam a odiar literatura – mesmo que ainda não a conheçam.
Literatura, portanto, não é apenas historiografia literária, conjunto de características somados ao período histórico; é, quem sabe acima de tudo, a experenciação da leitura, a FRUIÇÃO. É claro que para realizarmos esse ato de fruição, principalmente no âmbito escolar, é importante, sim, conhecermos estruturas de gênero (os gêneros literários) e constituições historiográficas. É pensando nessa realidade que um teórico afirmou: “literatura é aquilo que se ensina na escola”. No fim, a resposta à indagação inicial, o que é literatura, é quase esta – a escola determina o objeto literário.
Bom, a pretensão era iniciar reflexões e criar provocações. Nada de respostas! Para encerrar, cito dois trechos de Antonio Candido.

“Chamarei de literatura, de maneira mais ampla possível, todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático, em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, até as formas mais complexas e difíceis das grandes civilizações. Vista desse modo, a Literatura aparece claramente como manifestação universal de todos os homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem que possa viver sem ela, isto é, sem encontrar em contato com alguma espécie de fabulação”.
Excerto do texto O Direito à Literatura, de Antonio Candido.

“A literatura tem uma função humanizadora, isto é, tem a capacidade de confirmar a humanidade do homem. (...) Um certo tipo de função psicológica é talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura. A produção e fruição desta se baseiam numa espécie de necessidade universal de ficção e de fantasia, que decerto é coextensiva ao homem, pois aparece invariavelmente em sua vida, como indivíduo e como grupo, ao lado da satisfação das necessidades mais elementares. (...) Ela (a literatura) não corrompe nem edifica portanto; mas trazendo livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em sentido profundo, porque faz viver”.
Excerto do texto A Literatura e a Formação do Homem, de Antonio Candido.
E pra ti, leitor, o que é literatura?

Leituras Obrigatórias UFRGS 2011

Neste ano a UFRGS liberou bem cedo a lista de leituras obrigatórias para o vestibular 2011. Pois bem, vamos à leitura! Minha sugestão é começarmos pelos autores contemporâneos - e deixarmos por último o Guimarães Rosa, pois é uma leitura de maior fôlego.
Sei que os alunos ainda não terão sido apresentados a toda a historiografia literária, mas não tem problema. Se começarmos com livros contemporâneos, leremos obras que possuem uma linguagem que dialoga conosco com maior facilidade.

OBRAS:

1. Basílio da Gama - O Uraguai;
2. José de Alencar - Lucíola;
3. Poemas de Álvaro de Campos, de Fernando Pessoa
( 1. Mestre, Meu Mestre Querido!, 2. Ao Volante do Chevrolet pela Estrada de Sintra , 3. Grandes S ão os Desertos, e Tudo é Deserto, 4. Lisboa com suas Casas, 5. Todas as Cartas de Amor São, 6. Ode Triunfal, 7. Lisbon Revisited (1923), 8. Tabacaria, 9. Aniversário, 10. Poema em linha reta );
4. Machado de Assis - Memórias Póstumas de Brás Cubas;
5. Contos de Machado de Assis - O Caso da Vara, Pai contra Mãe, Capítulo dos Chapéus;
6. Eça de Queirós - O primo Basílio;
7. Manuel Bandeira - Estrela da vida inteira;
8. Cyro Martins - Porteira Fechada;
9. Guimarães Rosa - Manuelzão e Miguilim (Campo Geral e Uma estória de amor);
10. Dias Gomes - O Pagador de Promessas;
11. Rubens Fonseca - Feliz Ano Novo;
12. Cristóvão Tezza - O Filho Eterno.