terça-feira, 26 de agosto de 2008

Curso de extensão em teoria literária na UFRGS!

Atenção, pessoal!
A partir do mês de Agosto começa uma belo curso de extensão que o Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul promoverá, na figura da Dra. Rita Lenira Bittencourt e alunos de graduação em Letras. Seguem as informações sobre ele logo abaixo:


ESTUDOS DE TEORIA LITERÁRIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA

Terá início na quarta-feira (dia 27/08/2008) o curso que funciona como uma continuidade à disciplina de Teoria Literária II da graduação em Letras da UFRGS. Ocorrerá às 18h30min na FACED (Campus Centro da universidade), na sala 302.

Será discutido, neste primeiro encontro, o livro de Ítalo Calvino "Seis propostas para o próximo milênio" e será montado o cronograma das leituras seguintes.

Ainda há vagas! Quem quiser pode se inscrever ou na sala 211 do Instituto de Letras (Campus do Vale) ou no local. Taxa de R$ 4,00 para certificação. Discussões mediadas pela Prof. Dra. Rita Lenira de Freitas Bittencourt.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

“Os ‘velhos’ pretendem a arte-habilidade; os 'novos' pretendem a arte-sonho”


“O Nefelibatismo” é, na verdade, um trecho selecionado de uma das entrevistas realizadas por João do Rio*. O jornalista conversava, na ocasião, com Gustavo Santiago, um autor brasileiro dedicado ao Simbolismo e à defesa dessa proposta estética.

O NEFELIBATISMO
"— No que importa à prosa e à poesia contemporâneas, separadamente, parece-lhe que no momento atual, no Brasil, atravessamos um período estacionário? Haverá novas escolas? Haverá luta entre escolas antigas e modernas?
— No que refere à poesia, ou, melhor, ao verso, julgo não errar, assegurando ser o momento de luta. Há, de um lado, o parnasianismo, que, agonizante, a debater-se nas vascas da morte, tenta por todas as formas resistir, apegando-se até à tabua de salvação de todas as inteligências extintas do classicismo; há de outro lado, o que, de maneira geral, se convencionou denominar no Brasil e em Portugal nefelibatismo, e que tão desastradamente tem sido interpretado e compreendido entre nós. (...) Não estamos no verso estacionário; as duas coortes em frente provam o inverso, a atividade. Enquanto os parnasianos, unidos aos clássicos e aos românticos, que ainda os há, querem o statu quo, a conservação de fórmulas que o tempo e o uso imoderado tornaram imorais, como o adjetivo com a acepção rigorosa do dicionário, o número de sílabas muito de acordo com os compêndios, os acentos muito direitinhos nos respectivos lugares, a imagem muito terra-a-terra, a suportar a análise do burguês, a rastejar, a rima a opulentar-se ridiculamente num trabalho todo de paciência e rebuscamento por alfarrábios e empoados cadernos de sacristia, — os nefelibatas, insurgindo-se, arremetem contra tudo isso, na prédica do verso livre, na afirmação alta da imagem com asas, pairando inacessível em regiões estelares, em mundos outros que não os devassáveis pelo olho filisteu. Os 'velhos' pretendem a arte-habilidade; os 'novos' pretendem a arte-sonho. Os primeiros, partindo do ponto de vista falso de que a paisagem nada mais é do que um quadro, de que o homem nada mais é do que um simples animal obedecendo estritamente às leis biofisiológicas, que governam todos os outros, baniram da arte a emoção, o sentimento, a jungi-la ao termo preciso, a senhoreá-la à descritiva, a nivelá-la à fotografia. Os segundos, tomando como verdade o pensamento de Amiel, de que a paisagem nada mais é senão um estado de alma e de que o homem, com ser um animal, não é menos um coração, nem menos um espírito, procuram reintegrar a emoção, recolocar no altar o sentimento. (...).
Na poesia, pois, e em resumo, eu diviso duas orientações diferentes, em antagonismo, disputando-se valorosamente o predomínio do momento, ainda que sem fragor, nem escândalo — o parnasianismo e o nefelibatismo —, o primeiro, correspondendo, na ordem filosófica, ao materialismo; o segundo ao espiritualismo. (...)."

A discussão Parnasianismo X Simbolismo está em pauta. Não interessa, portanto, apenas aos livros didáticos pensar os contrastes entre as duas correntes estéticas: os autores e os jornalistas do século XIX interessavam-se pela análise de suas oposições e aproximações. Gustavo Santiago sintetiza, talvez de maneira tendenciosa - afinal, ele era um autor Decadentista - as principais tendências desses dois Movimentos Literários. Podemos indagar: afinal, qual é a importância desta reflexão? As palavras de João do Rio, enunciadas na introdução do livro, indicam que a observação da produção literária era um meio para compreensão da cultura nacional.


* João do Rio era o pseudônimo usado pelo jornalista, cronista, contista e teatrólogo, Paulo Barreto (1881-1921). O excerto acima foi retirada do livro “O Momento Literário”, publicado em 1907. Nesta obra, o jornalista realizou um conjunto de entrevistas realizado com diversos nomes do meio cultural brasileiro do século XIX.

- Referência: RIO, João do. O Momento Literário. Editora Criar, 2006.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

"Quem pagará o enterro e as flores se eu me morrer de amores?"

Uma dica ótima: nos últimos anos, os documentaristas brasileiros têm dado um show no que diz respeito à produção cinematográfica no país. Um respiro e um ar de esperança para aqueles que aguardam também biografias dignas de artistas consagrados e figuras marcantes da cultura brasileira. "Vinicius", de 2005, dirigido por Miguel Faria Jr., é uma das maiores jóias dessa nova safra de filmes de não-ficção nacionais. Vale muito uma olhada atenta nesta obra que parte da filmagem de um sarau sobre este que é um dos nossos maiores escritores, Vinicius de Moraes, para narrar a sua trajetória como poeta, cantor e compositor, suas dores e seus amores. Um dos poucos membros da intelectualidade brasileira que efetivamente aproximou-se de um grande público, Vinicius tem sua vida rememorada através de depoimentos de pessoas próximas e outras grandes figuras da cultura brasileira (Ferreira Gullar, Chico Buarque, Caetano Veloso, Antonio Cândido, Tônia Carrero, Maria Bethânia, entre outros), além do resgate em áudio e vídeo de depoimentos do próprio poeta, numa estrutura incomum de documentário que envolve ainda performances musicais gabaritadas (Yamandú Costa, Monica Salmaso, Adriana Calcanhotto, Zeca Pagodinho e outros), misturadas a belas declamações de poesia (dos atores Ricardo Blat e Camila Morgado, também narradores do documentário), além da estrutura documental clássica entremeando as falas e canções. Obrigatório!

Abaixo, uma pequena seleção de alguns dos melhores trechos do filme (clique sobre eles para abrir o link do vídeo no Youtube):

- “Canto de Ossanha” - Vinicius e Baden Powell, informalmente, cantam um clássico de autoria da dupla.

- “Além do Amor” / Vinicius fala sobre a primeira esposa

- “Soneto do Amor Total”, por Maria Bethânia

- Whisky / “Pela Luz dos Olhos Teus”, com Vinicius e Tom Jobim

- Depoimentos sobre Vinícius de Moraes – amizade, felicidade e outras coisinhas